Anticristo Superstar
Foto exclusiva do anticristo, que nasceu hoje. Ele é o capeta em forma de guri.
Diabo, Demônio, Satanás, Satã, Lúcifer, pai da mentira, príncipe das trevas, serpente maldita. Anjo mau, beiçudo, bode-preto, bute, canhoto, capeta, capiroto, coisa-ruim, contra, demo, dito-cujo, inimigo, não-sei-que-diga, rabudo, sete-pele, tinhoso. Enfim, hoje é dia do Cão, ou, para usar um termo mais técnico, do anticristo – que é o filho do Cão e também é o Cão, já que Jesus é filho de Deus e também é Deus.
Explicando melhor: uma das muitas interpretações das profecias de Nostradamus defende que o messias demoníaco nasceria no sexto dia, do sexto mês do sexto ano do novo milênio – 06/06/06. Ou seja, hoje. Não por acaso chega hoje aos cinemas a refilmagem de “A Profecia”
“666 é o número mais enigmático no simbolismo numérico do Apocalipse – por isso tanta especulação, fantasia e folclore. Ele mexe com o indecifrável, a fantasia, o mistério”, conta Padre José Bortolini, mestre em Sagrada Escritura pelo Instituto Bíblico de Roma e autor de “Como ler o Apocalipse”, que conta a história do anticristo.
Apocalipse now – Talvez por isso, o anticristo e o fim do mundo sejam temas tão recorrentes na literatura, artes plásticas e música sacra desde a Idade Média. No século passado, eles migraram para a cultura de massa, no cinema, quadrinhos e música pop. Só na virada desta última década/século/milênio, outra data propícia, estrearam em cartaz dezenas de filmes contando a chegada do anticristo: Dominação, Fim dos Dias, A Filha da Luz, entre muitos outros.
“Esse tipo de produção faz uma leitura fundamentalista e distorcida da Bíblia. Elas pouco ou nada têm a ver com a mensagem de Deus”, conta Padre Bortolini.
Para ele, todo o sensacionalismo em torno do número 666 e o fim do mundo é causado pela distância cultural entre a época que o livro foi escrito e os dias de hoje. “Este é um livro altamente simbólico. Sua linguagem é codificada. Não pode ser tomado ao pé da letra”, conta.
O Apocalipse foi escrito por volta no primeiro século da nossa época, quando as comunidades cristãs eram perseguidas pelo império romano. “Hoje há gente que faz uso errado desse livro. Tirando-o do seu contexto, fazendo dele gato e sapato, transformando-o em livro sinistro e ameaçador”.