Pergunta da semana:
O que você acha do regime socialista cubano?
Comentário[s]

6/24/2006


O som do silêncio

Danilo Fraga



Depois de conquistar o primeiro lugar no ranking da Billboard desta semana, o silêncio é o maior hit da música pop de todos os tempos. Foi esta a manchete de hoje nos principais newsblogs do mundo.

Num futuro muito próximo de vocês, a idéia de se comprar música na Internet parecerá repugnante de tão ultrapassada. Não existem gravadoras, selos ou lojas especializadas. A música é produzida por coletivos hackers espalhados pelo mundo e disponibilizada de graça em milhares de domínios espalhados pela a rede.

Foi neste contexto que a música do silêncio apareceu. Ninguém a inventou, ela apareceu. No futuro, não existem músicos e a música tem código aberto *. Esta mudança de paradigma foi de vital importância para a existência da música do silêncio. Durante seu desenvolvimento, usuários de todo o mundo podiam baixar o arquivo e contribuir para o resultado final com alguns segundos de seu precioso silêncio. Os estudiosos dizem que o arquivo já conta com alguns meses de extensão.

Os visionários do século XX, alguns babacas que se julgavam “avant-garde”, já haviam pensado no poder do silêncio como música. Vale citar a experiência de John Cage: questionando a idéia de que a música seria uma série ordenada de notas, Cage compôs 4'33", peça que os críticos estúpidos descreveram como "quatro minutos e meio de silêncio".

A música do silêncio nada tem a ver com a experiência de Cage. Seu principio básico é a aplicação de pequenas descargas elétricas no nervo auditivo do receptor, anulando assim toda e qualquer possibilidade de audição. Quem ouve a música do silêncio experimenta uma sensação nunca experimentada por qualquer ser humano, um silêncio comparável apenas ao que precedeu a explosão que deu início ao cosmo.

Como toda boa idéia, ela é simples e elegante. A música do silêncio é, ao mesmo tempo, um arquivo, um formato e um gênero musical. E, numa cidade barulhenta como a nossa, ela tem um valor inestimável.

...

Quando a garota começou com aquele papo de que precisava ficar um tempo sozinha para pensar melhor na vida, Tommy acessou imediatamente o ftp de um site marroquino para atualizar o arquivo da música do silêncio no pequeno chip implantado em seu quarto nervo auditivo.

Não queria passar por aquele tipo de coisa novamente. No fundo, sabia que ela havia encontrado outro.

Recolheu suas coisas que estavam espalhadas pela casa e andou devagar em direção à saída. Ele esperava que ela voltasse atrás e dissesse que era tudo mentira. Esperava isso mesmo quando disse “adeus”. “É mais fácil dizer esses tipo de coisa quando você não tem que se ouvir dizendo”, pensou.

Não quis pegar o metrô naquela noite e saiu andando. Em meio àquele pesadelo agitado e monótono, ele caminhava só pelas ruas estreitas e pelas calçadas de paralelepípedo. Cruzava os corredores do conjunto habitacional em meio ao som do silêncio e, de alguma forma, experimentava a paz.

Tommy sempre achou que para tudo existia uma trilha sonora apropriada. Para a dor, a felicidade e principalmente para o amor. O barulho insistende e desordenado das grandes metrópoles, pensava, era a trilha sonora perfeita para a sua vida. Mas naquele momento experimentava o silêncio absoluto pela primeira vez, enquanto chegava ao centro da cidade.

Dez mil pessoas, talvez mais. Pessoas conversando sem estar falando. Pessoas ouvindo sem estar escutando.

Ele degustava o silêncio. E, talvez pela exclusão deste elemento [o som], Tommy passou a ser capaz de analisar todo o resto. De repente, toda sua vida passou a fazer sentido a seus olhos, enquanto ele atravessava aquela cidade que borbulhava silenciosa e silenciosas gotas de chuva caiam, ecoando no poço do silêncio.

Foi quando ele decidiu não mais ouvir. Fechava os olhos e encontrava uma paz nunca antes imaginada. “Olá escuridão, minha velha amiga. Estou aqui para conversar com você novamente”, pensava.

Hoje o profeta escreve nas paredes do metrô: “Logo o silêncio, o som mais insistente de todos”.

*Depois das intermináveis discussões sobre os limites sistema tonal, que acometeram a música erudita no século XIX e a música pop no final do século XXI, achou-se por bem esquecer de vez toda a notação músical. No lugar dela, adotou-se a noção de código, importada da semiótica da informação e das ciências da computação.

Leia outro conto sobre as músicas do futuro: O Clube dos Corações Solitários

<< Home

pessoas andréa carla danilo iansã pedro vladi tatiana leia a tarde folha guardian cine in site kibe loko petshop omelete dicionário do rock el cabong urbe discoteca basica abacaxi atomico trabalho sujo bahiarock na estrada da copa no mínimo pílula pop vitrola filosofia privada gordurama priberam senhor f revista bala clash city rockers wikipédia allmusic universo hq pop up overmundo tarja preta semanpedia cocktail molotov bakmagazine ediçõesk ouça trama virtual dez! na faixa woxy lastfm reciferock rock loko podcastda bizz mudernage zerofm.net diginois notrit veja woostercollective rabuga you tube design museum my grandfather grils atrás dos olhos camisetaria riscos analógicos bruno aziz malvados visorama diburros veoh emol japanese girl peekvid tipocracia bossa senegal ponhol dogday tenis vermelho guilherme.tv f de flávio brasil inspired motion grapher anti-cadernodez


Últimos Posts

Crônica de Elisa
Mais ocidental que o ocidente
Beatles no msn
Imprima seu próprio jornal
Comichão e Coçadinha
Inhos da seleção
Redondo
Videoarte na web, ou virce-versa
Capas de livro
Copa OFF

Dez! de pdf

08/08 01/08 25/07 18/07 11/07 04/07 13/06 06/06 30/05 23/05 16/05 09/05 02/05 25/04

Arquivo

abril 2006
maio 2006
junho 2006
julho 2006
agosto 2006
janeiro 2007
fevereiro 2007
junho 2007
agosto 2007
novembro 2007
dezembro 2007

No Headfone


Danilo Fraga escuta
Milestones

Miles Davis




Andréa Lemos escuta
Prolonging the Magic
Cake



Nadja Vladi escuta
The Shine of Dried Electric Leaves
Cibelle



Pedro Fernandes escuta
Excerpts from the Diary of Todd Zilla
Grandaddy



Iansã escuta
Veneer
Jose Gonzales



Tati Mendonça escuta
Trilha de Amélie Poulain
Yann Tiersen


Camilla Costa escuta
Trilha Sorora de A Hora de Voltar
Vários


Na Cabeceira


Iansã lê
Crônicas vol.1
Bob Dylan


Andréa Lemos lê
O Lobo da Estepe
Hermann Hesse



Danilo Fraga lê
Como Dois e Dois são Cinco
Pedro Sanches


Nadja Vladi lê
Ficções
Jorge Luís Borges


Pedro Fernandes lê
Valentina: Crepax 65-66
Guido Crepax


Tati Mendonça lê
Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra
Mia Couto


Camilla Costa lê
Dom Quixote de La Mancha
Cervantes


Mapa da Mina

Terça 15/08

A peça Murmúrios, baseada no texto "Pedro Páramo", de Juan Rulfo conta a história de um garoto que viaja para a terra de sua mãe em busca do pai. Lá, encontra a morte e o eterno retorno às suas circunstâncias.
Espaço Jequitaia [Calçada]
20h
Grátis [senhas no local a partir das 19h]

Quarta 16/08

A exposição Olhares Baianos – A Gosto da Photographia Ano II reúne trabalhos de artistas como Antônio Olavo, Andréa Fiamenghi, Lázaro Roberto, Célia Seriano e Mário Neto. A programação inclui palestras e oficinas. Até o dia 26
Galeria Acbeu [Vitória]
Das 14h às 20h
Grátis

Quinta 17/08

A peça Extraordinárias Maneiras de Amar é uma aventura pelo universo feminino, inspirada livremente no livro "Contos de Eva Luna", de Isabel Allende. O texto, a direção e a atuação são de Meran Vargens.
Teatro XVIII [Pelourinho]
20 h
R$ 4

Sexta 18/08

Projeto Vale O Quanto Pesa com Jazz Rock Quartet, Alex Pochat e Os Cinco Elementos
23h30
R$ 7
Festival de Inferno com Los Canos, Vinil 69 e Paulinho Oliveira
Zauber [Ladeira da Misericórdia]
22h
R$ 10

Sábado 19/08

Garage Fest, com Leela, Mosiah e Malcom
Garage [Feira de Santana]
21h
R$ 13 [pista]
Brotas Roots Rock Reggae com Os Algas, Vulgo e Inoxidáveis
Rua Frederico Costa [Brotas]
13h
R$ 5

Segunda 20/08

Atrito Rock Fest com Aditive, Djunks, Outspace
Papagayos [Patamares]
14h
R$ 10 + 1 kg de alimento

Mentinsana com Underchaos, Barulho S/A e outras
Espaço Solar [Joana Angélica]
14h
R$ 4

Domingo 13/08

Estréia do clipe Tijolo a Tijolo, Dinheiro a Dinheiro, do baiano Lucas Santana, com direção de Luis Baia e Pedro Amorin
MTV Lab
20h30

A Vida e A Obra de Samuel Becket
Teatro Vila Velha [Passeio Público]
Das 9h às 18h
Gratuito

Imperdível

Sexta-feira
18/8
Obrigado Por Fumar
nos cinemas
R$ 7 [em média]


Cinismo antitabaco


"Obrigado Por Fumar" [Thank You For Smoking] conta a história de Nick Naylor [Aaron Eckhart], um porta-voz de uma grande companhia de tabaco que tem como função passar uma boa imagem da indústria do fumo.
Ao custo de manipulação de informações e contratos com agentes de Hollywood, ele tenta combater a campanha antitabaco de um senador que pretende colocar rótulos de venenos nas embalagens de cigarro.
O filme é uma sátira que acompanha o dia-a-dia de Nick, que inclui tentar ser um exemplo para o seu filho de 20 anos. A direção é do estreante Jason Reitman e tem no elenco Katie Holmes, Rob Lowe, Robert Duvall e William H. Macy.

  Powered by Blogger
free stats