Minha identidade é minha marca
Foi-se o tempo em que os jovens mais legais do mundo moravam nos Estados Unidos. Eles vestiam as melhores roupas, ouviam as melhores músicas primeiro que todo mundo, tinham os aparelhos eletrônicos mais modernos, computadores, videogames e a gente só podia ficar vendo tudo isso na tela do cinema babando. Não é mais assim. E o estudo realizado pelo instituto norte-americano Energy BBDO, divulgada no mês passado, veio provar isso.
A pesquisa ouviu 3.322 jovens [entre 13 e 18 anos] de 13 países: Estados Unidos, México, Brasil, Inglaterra., França, Alemanha, Espanha, Austrália, Rússia, Polônia, China, Taiwan e Índia. E desvendou um novo tipo de jovem, que eles chamam de criativos. Eles representam cerca de 30% da população mundial e estão em todos os 13 países pesquisados, principalmente na Europa Ocidental, onde o percentual é de 41%.
Na categoria de “jovem criativo”, se encaixam aqueles que vivem conectados à internet [70% deles entram na rede todo dia], usam programas de mensagens instantâneas e gostam de se expressar através da arte e tecnologia. Ou seja, somos nós.
A marca de besta - Ao invés das marcas mundialmente famosas, preferimos marcas que nos passem a idéia de liberdade de estilo, marcas que permitam a customização e personificação de produtos. É por isso que as marcas americanas tradicionalmente famosas, como a Coca-Cola, Dysney ou McDonald´s, aparecem em posições pouco favoráveis na pesquisa da Energy BBDO. Hoje os americanos não dominam mais a listas das dez marcas mais lembradas por nós. Um novo time de marcas ganha popularidade, Sony do Japão, Nokia da Finlândia e Adidas da Alemanha.
“Eu gosto especialmente da Cavallera. Gosto das peças bem humoradas, da identidade visual e das brincadeiras que eles fazem com as marcas tradicionais”, conta Thiago Félix, 21, estudante de comunicação. A grife de roupas utiliza o “culture jamming”, um recurso que utiliza a paródia de marcas famosas como forma de protesto. O “culture jamming” é cada vez mais usado no mundo da moda, exatamente por vender essa idéia de originalidade. Uma das possibilidades é, como Thiago, ter sua própria marca. “Estou estou trabalhando com uns amigos na criação de uma marca de camisetas, a Las Tripas", conta.
“Hoje já se observa um enfraquecimento do consumo das marcas tradicionais, uma vez que a customização, o faça você mesmo, tem se expandido no mundo da moda” analisa a comunicóloga Retana Pitombo, doutora em comunicação e coordenadora do curso de Comunicação e Produção de Moda na FTC.
Nós não somos mais alvos fáceis para a publicidade. A pesquisa da Energy BBDO revela que 62% dos jovens criativos não se interessam por propagandas e acham que eles existem demais no mundo. Isso não quer dizer que nos sejamos anti marcas, ou que não sejamos consumistas. A questão é que está fora de moda usar logotipos famosos nas roupas, a não ser que sejam aqueles que achamos que reflete alguma coisa de nossa própria identidade.
“Acho algumas marcas legais, mas não me preocupo em comprar nada de marca especialmente. A única marca que eu realmente faço questão de usar é a Converse All Star, que já faz parte da minha identidade, de quem eu sou”, diz Caroline Santos Neves, 20, estudante de jornalismo.Em sua coleção, Caroline têm 19 pares de All Star. “Me considero uma colecionadora. Não compro porque os meus estão velhos, compro modelos que eu não tenho. É absolutamente supérfluo, consumismo mesmo, mas sem culpa”, conta.