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7/03/2006


Alfredo

Aída Vitória*
Decepou-lhe a língua minutos antes da sua morte.

Alfredo era um homem observador, tinha muitos amigos, mas preferia chamá-los de “conhecidos”. Por quê? Ele logo dizia para quem quer que seja, aconselhando: “Amigo só quem você confia de verdade, o resto é conhecido!”.

Já tinha ouvido e visto muitos casos de amigos induzirem o outro à perdição.

Ele morava sozinho numa rua muito movimentada, a qual não seria nada, nada recomendável para um senhor de 80 anos. Mas o que se pode fazer se sua família o colocou ali? Pelo menos eles se preocupavam com a sua saúde e visitavam constantemente.

Só passava uma certeza na sua cabeça: seu gato Frederico era o único grato para ser chamado de amigo. Fazem anos que os dois estão nessa parceria.

Para ele, o momento mais importante do seu dia era quando ia se deitar: Primeiro penteava seu cabelo grisalho, sentado de frente para a penteadeira, depois fazia uma reflexão de todas as suas aventuras olhando para o interior dos seus olhos em reflexo no espelho.

O velho era um contador de histórias de primeira. Sempre buscava algum ocorrido impressionante de sua vida e contava para quem o agradasse e, de preferência, para sua sobrinha-neta predileta, Marina.

Quando ele a olhava, sempre lembrava de um acontecimento. Como a guerra, em que ele foi convocado, largando todos os seus amores para lutar, com temor de perder tudo conquistado. Suas cicatrizes foram deixadas como mais detalhes de lembranças, em seu corpo.

Nessa guerra um menino havia lhe apontado à arma. Mas como Alfredo tinha um coração mole, não o matou. Em troca levou um tiro na cabeça, quase morreu e tudo, mas os enfermeiros disseram que ele não era um ser humano qualquer. Para compensar Alfredo disse que uns enviados de Deus queriam que ele permanecesse na terra pelo tempo determinado até que Marina se formasse na faculdade, casasse e tivesse filhos.

Numa de suas reflexões conclui que a sua missão na terra já havia acabado, então já seria a hora de partir, entretanto o velho estava completamente ciente e calmo. Quando chegasse a hora, seria a hora.

Marina sempre reclama quando ele diz que a hora dele já esta perto, que sua missão na terra já foi comprida, isso a deixa assustada. Ele sorri, abraçando-a.

Certo dia Alfredo teve uma parada cardíaca, quando estava com a sua família fazendo uns exames no hospital, graças a Deus foi lá, pois foi atendido imediatamente e infelizmente ficou por lá...Internado, agora sobre cuidados de máquinas, que nem vida tem.

Sua sobrinha Marina o visitava, mais que constantemente, dormia lá direto, é claro que ele reclamava, como um velho, mas ela o amava mais que tudo nessa vida.

Foi inevitável a morte de Alfredo, mais agilizaram a sua viagem para o céu.

*Aida Vitória tem 15 anos e é estudante. Mande seu texto para cá.

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