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7/02/2006


Nem fogos, nem tambores

Zé Roberto e Zidane, no final do jogo em que a França desclassificou o Brasil

O mundo estava seguro para os passaros ontem a noite. Umas 19:00 olhei para o céu e não vi nenhum fogo de artifício. Também não havia canários voando. Nem carros buzinando nas ruas. Ontem o Brasil perdeu, novamente, da França e teve que deixar de lado a idéia de ganhar a Copa do Mundo.

Mesmo sem o apoio de Galvão Bueno, o Olodum insistiu em tocar no Pelourinho. "É um prêmio de consolação", conta Rosimeire Souza, 26, que estava em frente à Casa de Jorge Amado esperando comemorar uma vitória naquela noite. "Quando o Olodum tocou o Hino Brasileiro, eu quase chorei, de emoção e tristeza", completa.

Neste dia eu tive a oportunidade de acompanhar como as pessoas estavam vendo o jogo em várias partes de Salvador. Pude ver a esperança, nervosismo e a tristeza de várias pessoas. Não sei se isso foi bom ou ruim.

Inglaterra x Portugal - Pela manhã todos assistiam ao jogo na esperança de conhecer o adversário do Brasil na próxima fase. Eu estava almoçando no restaurante do jornal e a conversa, como não poderia deixar de ser, era sobre futebol. "Que baba horrível. Acho que a gente é muito exigente com a nossa seleção", dizia um cara que estava sentado na mesa do lado, embalado talvez pelo sentimento de irmandade que contamina todos em Copas do Mundo.

Alguns torciam para Portugal e outros para a Inglaterra. Quando terminou o jogo, ouvi gritos de "É Brasil e Portugal, porra!". Naquele momento parecia óbvio para todos que o Brasil ia chegar até a final. E o anúncio de Juninho Pernambucano no time só fazia aumentar esta certeza.

16:00 - Começa o jogo e o Brasil joga mal. Na praça de alimentação do Aeroclube algumas centenas de pessoas viam o jogo, sentadas no chão ou na mesa de algum dos bares. Não havia um telão e a atenção de todas aqueles pessoas estava focada nas poucas polegadas de uma televisão. No fundo, todo mundo suspeitava do que ia acontecer, mas ninguém admitia. Afinal, o Brasil jogou mal em todos os jogos e acabou vencendo. Jogar assim pode ser até um bom sinal.

"O jogo está bom até agora. As mudanças de Parreira foram boas", dizia o advogado Nivonildo Ferreira, 36, que levou também seus dois filhos para assistir ao jogo, Taiane de 8 anos e Diego de 1 ano e quatro meses. "Eu e minha família gostamos de assistir ao jogo em lugares públicos. Em casa você fica muito preso. O jogo vai ser 2 X 0 e quando o Brasil fizer os gols eu quero gritar bem alto e lá em casa eu fico com vergonha", dizia. Naquele dia, nem ele e nem eu gritamos nenhuma vez.

Intervalo - Ninguém sabia ainda o que ia acontecer nos 45 minutos seguintes. Quer dizer, talvez Carlos Santana, 47, marinheiro aposentado, soubesse: "O jogo está péssimo. Desde o começo da Copa eu não vi ainda a seleção jogando. Estamos jogando com uma França que chegou às quartas pela janela e vamos perder. Vai ser 1 X 0, gol de Thierry Henry com passe de Zidane", disse ele com uma fisionomia calma. Não acreditei na hora e tentei achar algum argumento racional para desautorizar a teoria dele: "Zidane não deu passe algum para Thierry Henry na Copa, eles são brigados". Carlos não me disse nada, apenas me olhou com cara de "eu tou dizendo, poupe suas emoções".

Naquele momento eu tive que sair do Aeroclube e procurar outro lugar onde outras pessoas estivessem assistindo ao mesmo jogo. Tive que sair rápido, enquanto o segundo tempo não começava. No caminho sintonizamos o rádio na Transamérica para ouvir o jogo. "Não gosto de ouvir jogo no rádio", dizia eu, "esse cara narra como se toda a jogada da França fosse perigosa. Dá muito nervosismo. Só a gente chegando logo no Imbuí para eu ver na televisão como não é nada disso". Chegamos no Imbuí e eu, infelizmente, vi as imagens na TV. Não era nada disso realmente, era muito pior.

Segundo tempo - No Imbuí, várias barracas transmitiam o jogo. Escolhemos uma, que eu achei ser a pior, mais cheia, mais cheia de gente bizarra. Depois eu vi que não era. Estavam todas assim, cheias de piriguetes e rapazes malhados. Mas não era para esse Brasil que eu estava torcendo. Era para o Brasil da missigenação cultural, das pessoas que não desistem nunca, ou qualquer imagem bonita vendida por algum comercial.

"Ver o jogo aqui é bom por causa do movimento", dizia Mariangela Telles, 19, estudante. Eu não conseguia prestar atenção em nada, só na televisão. O empate parecia péssimo. Do meu lado, um rapaz esfregava a bandeira no rosto.

Eu não lembro direito como aconteceu. Acho que eu estava reclamando da cerveja quente ou dando licença às dezenas de pessoas que queriam passar de um lado para outro. Foi diferente do gol do Japão. Naquele jogo tomamos 1 X 0, mas tinhamos certeza que iamos virar o jogo. Neste não. Quando a França fez o gol, aos 30 minutos, imediatamente veio à minha cabeça a certeza que tudo estava perdido.

Gol da França - Em campo, o Brasil parecia estar em coma. E eu não sabia se torcia para o Brasil fazer ou por uma eutanásia, para acabar logo com meu sofrimento. Não tive nenhuma das duas possibilidades e tive que conviver com a dúvida até o final do jogo - 15 minutos que pareceram horas. Chorei duas vezes.

Depois do gol o empate parecia ótimo. À minha volta, alguns sofriam como eu, outros nem tanto. "Eu tou para morrer aqui. Mas eu sou brasileira e não desisto nunca", dizia Anne Nascimento e, logo depois, foi cochichar com a amiga do lado sobre algum gatinho da mesa ao lado. Quando Robinho entrou, todos comemoraram. Já Adriano entrou em meio a vaias e aplausos.

Nenhum chute a gol até 45 minutos do segundo tempo. Até agora não acredito que isso aconteceu. E até agora não consigo escrever sobre aqueles 15 minutos - eles estão frescos demais na minha memória. Ainda não quero revivê-los. Queria ter ouvido os conselhos do velho marinheiro, me pouparia um nervoso que deve ter me custado alguns anos de vida. Mas só lembro de ter visto 3 Copas do Mundo além dessa. E das 3, ganhamos duas. Acho que fiquei mal acostumado.

Logo depois do apito final. Alguém ligou um daqueles sons enormes no fundo do carro. Acho que era Pagodart, ou seilá o que. Todos começaram a dançar como se nada tivesse acontecido. "Não sei qual a pior derrota do Brasil, no campo ou na vida real", pensei. "Acho que estou ficando velho", pensei logo em seguida. Mas eu ainda tinha que trabalhar naquela noite. Era hora de ir ao Pelourinho descobrir se o Olodum ia tocar ou não.

Fim de Jogo -
Nunca vi um jogo no Pelourinho. Quero ver, talvez na próxima Copa. Colocaram um telão em frente à Casa de Jorge Amado, logo ao lado estava a percussão do Olodum. Quando eu via este cenário na televisão, quando Galvão Bueno chamava o som do Olodum, sempre achava que aquilo era meio falso. Me pareceu bem real ao vivo.

Por algum motivo, o Olodum tocou depois do jogo.

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