O Punk é Americano
Quando alguém pensa nos punks, vem lodo na um grupo garotos com cara de mau, coturnos, calças rasgadas, tatuagens, brincos e piercings por todo corpo, ostentando cabelos coloridos com penteado espetado ou moicano. Parece que foi essa a imagem que ficou do punk. Entretanto, na década de 70 algumas bandas americanas não apresentavam nenhuma dessas características e, apesar disso, foram chamadas de punk.
Esperando pelo homem - Nos anos 60, no auge da cultura hippie multicolorida, alguns jovens começaram a usar jaquetas pretas, calças de couro e a desprezar os ideais de paz. A cultura flower power dos hippies era eminentemente rural en não se encaixava bem nas ruas cinzentas das metrópoles americanas.
Foi desse fenômeno que nasceu o que viria a ser o metal na Inglaterra e o punk nos EUA. O primeiro personagem importante nessa história é Jim Morrison - isso não quer dizer que ele seja punk o que, de fato, ele não era. Mas nas performances pós-hippies do The Doors é possível encontrar alguns dos parâmetros importantes para o punk: as roupas de couro preto e o clima ,um pouco sombrio e agressivo.
Mas foi nas ruas de Nova Iorque, a cidade mais urbana e cosmopolita dos EUA, que o punk deu seus primeiros passo. Enquanto os Beatles cantavam os ieieiês de sua primeira fase e Mick Jagger e Keith Richards ainda engatinhavam em suas composições, Lou Reed já tocava "Heroin" e "Waiting for the man" para John Cale, com quem ainda nesse ano formaria o Velvet Underground.
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Musicalmente, o Velvet não tem muito a ver com a música rápida e agressiva do punk rock de hoje, mas na utilização dos ruídos e as temáticas das letras são importantes para o gênero. A banda também foi uma das primeiras a assumir o mercado underground como uma alternativa ao mainstream do rock.
1969 - Somente depois de Iggy Pop e seus três patetas (The Stooges), podemos mesmo falar de punk. Há uma notável descontinuidade entre os beatniks revoltados do Velvet Underground e os garotos sujos, feios e burros do The Stooges, Television, New York Dolls, Richard Hell and the Voidoids e Ramones. Enquanto Lou Reed trafegava livremente no meio artístico, seria possível que a turma de Iggy não reconhecesse a Monalisa, se a pusessem em sua frente.
No final de 1967, em Detroit, o jovem James Osterberg reúne três amigos, Dave Alexander e os irmãos Ron e Scott Asheton, para formar uma banda. A idéia era peitar o ideal hippie e a música mais bem cuidada das bandas britânicas, fazer um som cru e pesado. Mais tarde, o jovem James seria conhecido como Iggy Pop e seu grupo, The Stooges [os patetas], entraria para a história do rock como uma das bandas mais feias, sujas e malvadas de todos os tempos.
Quando começou sua carreira, Iggy queria tocar blues e chegou a montar uma banda, The Iguanas. Mas não era um músico virtuoso. Também não se destacava pela inteligência [como John Lennon], beleza [Jim Morrison] ou sensualidade [Mick Jagger]. A Iggy restava denunciar a falta de sentido na vida dos jovens americanos.
Iggy Pop and The Stooges, ao vivo em Cincinatti, 1970
O som da banda era uma versão mais simples e suja do rock blueseiro tocado por grupos como Rolling Stones e Cream. Eles falavam do tédio e da apatia, pregavam a destruição de tudo o que estivesse pela frente. No palco, Iggy se mutilava com cacos de vidro, cuspia na platéia, fazia sexo com o microfone, vomitava, insultava a todos.
Os Stooges lançaram o primeiro CD em 1969. Em sua carreira meteórica, os Stooges lançaram apenas três álbuns de estúdio – “The Stooges” [1969], “Fun House” [1970] e “Raw Power” [1973] –, todos obrigatórios e imprescindíveis na história do rock. Sem eles, o punk na década de 70 não teria acontecido. Em 1974, depois do final da banda, Iggy Pop seguiu em sua carreira solo, oscilando entre momentos memoráveis e outros, desprezíveis.
Sem Stooges, não haveria Ramones, New York Dolls e nem Sex Pistols – a turma de Sid Vicious tinha Iggy como ídolo máximo. Ainda hoje podemos ouvir os ecos das guitarras sujas e simples de Ron Asheton em bandas como Strokes, White Stripes e The Hives.