Um Kbyte em Ré Menor
Era uma vez um tempo em que as bandas sabiam o caminho até o sucesso. Era tudo muito simples: alguns amigos se juntavam para tocar se divertir e gravavam uma demo depois de alguns ensaios. Aí era só procurar um selo disposto a distribuir as fitas e esperar pelo sucesso. Não quer dizer que muitas bandas chegassem lá, mas pelo menos elas sabiam o que fazer.
Não é mais assim. O mercado fonográfico tradicional está encolhendo e as gravadoras contratam cada vez menos bandas. Segundo os dados da Associação Brasileira de Produtores de Disco [ABPD], as vendas de CDs no País caíram 20% no ano passado, em relação a 2003. Em comparação com 2000 a queda é ainda maior, 52%. “A indústria fonográfica vem encolhendo ano a ano em termos mundiais, mas no Brasil o processo tem sido mais agudo. Entre 1997 e 2003, a diminuição de vendas nas vendas chega a 50%”, explica Micael Herschman, doutor em comunicação pela UFRJ. Será que faz sentido seguir este caminho e tentar fazer parte desta indústria decadente?
Disco online - Mas a indústria fonográfica não é apenas a indústria do disco, é a indústria da música. E se os avanços nas telecomunicações multiplicaram as possibilidades de distribuição e hoje é comum que algumas bandas lancem seus álbuns direto na internet, é natural que ela precise se reconfigurar para abarcar este novo fenômeno. O primeiro passo desta reconfiguração foi a expansão dos selos independentes, apoiados na comunicação em rede. O passo seguinte parece ser a distribuição de álbuns pela internet.
Esta atitude, impensável há alguns anos, ainda hoje é encarada como pirataria pela ABPD. De qualquer forma, ela rendeu sucesso rápidos a algumas bandas - como o Artic Monkeys, que vendeu 360 mil cópias depois de colocar seu álbum de estréia no MySpace.com, um dos primeiros sites a disponibilizar este tipo de serviço. No Brasil já aconteceram situações semelhantes com o Mombojó, Cansei de Ser Sexy e o Bonde do Rolê.
“A venda de discos raramente dá lucro para um banda pequena. Depois de analisar algumas propostas de gravadoras, vimos que não conseguiríamos ter um retorno financeiro suficiente para cobrir os gastos da produção do novo álbum, quanto mais ter lucro“, explica Marcelo Martins, 26, vocalista da Plexus e autor do livro Comunicação Subterrânea [Ed. Frutos], com dicas e conselhos para as bandas iniciantes.
Neste mês, a Plexus lança Lyfecycles em seu site. “Para um artista independente, gravar um disco é apenas o começo do trabalho. Distribuir é o processo mais difícil e mais caro e só quem está em uma major tinha acesso a uma distribuição razoável. A internet muda tudo. Qualquer pessoa do mundo tem acesso à sua música e você tem um retorno de público muito mais rápido se colocar o seu disco na internet“, conta Marcelo.
Em Salvador - Por aqui existiam poucas iniciativas convincentes de distribuição de música pela internet quando apareceu o portal de música da Eletrocooperativa. “A idéia do portal é propor uma nova maneira de distribuir o trabalho desenvolvido dentro da cooperativa e também por outras pessoas”, explica Gilberto Monte, um dos idealizadores do projeto. Até agora, o site conta com músicas de bandas como o Império Negro, Afrogueto, Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta, entre outras. “Mas qualquer pessoa pode colocar sua música lá”, completa Gilberto.
O selo baiano Estopim também está aderindo à distribuição online. “Ainda este mês vou colocar no site do selo álbuns que lancei e estão com a tiragem esgotada. No próximo mês, estarei inaugurando um selo virtual com um álbum do Veredicto, que será lançado somente na internet”, explica Fabiano Passos, 24, guitarrista da banda Lumpen e dono do selo Estopim.
Rádios online - A ZeroFM.net, uma das primeiras rádios online da Bahia, surgiu no mês passado como uma brincadeira entre amigos. Hoje, a rádio tem uma programação diversificada, mas sempre está atenta ao que acontece na cena independente. “A rádio online é um importante canal de divulgação e de interação com o público. É uma possibilidade da música independente chegar até o ouvinte”, explica Eduardo Pelosi, 20, produtor da ZeroFM.net.
Mesmo com todas essas iniciativas, ainda não aconteceu de uma banda baiana ter estourado na internet. “Mas muitas conseguem bastante coisa pela rede. Não devemos nos surpreender, se aparecer a banda baiana bombando na internet. Vamos aguardar”, especula Gilberto Eloy, 24 anos, baixista do Los Canos e um dos donos do selo Frangote Records. No final das contas, só depende da gente mesmo.