Compre o disco pela capa
Cabeças decepadas boiando em um mar de sangue. No centro, um homem tatuado, caolho, sem braços, imerso até os joelhos. Seu rosto lembra o de Jesus Cristo. No canto está o logotipo da banda.
Seja através das cores, imagens ou tipografias, é muito fácil perceber que tipo de música está por trás de cada capa de CD. Não é preciso ser especialista para saber que esta figura só poderia estar na capa de um disco de metal – no caso “Christ Illusion“, do Slayer.
“A capa é a primeira impressão que você tem do disco. É o que alimenta a sua imaginação para o que está ali dentro e pode fazer você comprar ou não“, conta Gabriel Zander, vocalista da banda de hardcore carioca Noção de Nada, que lança seu novo álbum, “Sem Gelo“, neste mês.
DESIGNER – O responsável pela parte gráfica deste disco foi o designer baiano Leo Vilas, 24.
“Nesta capa, foi criada uma arte que representa os botecos cariocas, mas com uma linguagem da Tropicália“, conta. Leo é formado em design gráfico e, além do Noção de Nada, já trabalhou para bandas como a paulista Paura e as baianas Lumpen e Flauer.
“Costumo dizer que a arte de um disco é mais importante do que a música. Não adianta o conteúdo ser bom se ele não causa muito interesse ao público”, opina.
NA BAHIA – Os trabalhos de Leo Vilas, Edson Rosa [dos dois discos de Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta], Cristobal Fraga [Mirabolix] e Biano Moreira [Malcom, Intra e Minnuit] são representantes de uma época em que as capas dos discos, pôsters e outros materiais gráficos do rock baiano estão cada vez melhores.
É um movimento análogo às facilidades da gravação digital.
“Tenho visto bons trabalhos por aqui. Hoje existem mais cursos em design gráfico e quem se interessa está investindo“, explica Leo.
”Acho que a melhora tem sido a facilidade de encontrar e pesquisar na internet muitas coisas que antes eram restritas. Quando não dá para comprar um livro, eu pesquiso na internet ou até mesmo compro por sites algum livro ou material que não se tem acesso por aqui“, completa Biano.
LP – Mas a relação entre música e imagem é mais antiga do que a internet. E dizem até hoje que as capas dos LPs eram melhores do que as dos discos digitais de hoje.
Nos anos 60, alguns pintores famosos se dedicaram a ilustrar um disco de música pop. Além das famosas capas de Andy Warhol para o Velvet Underground e Rolling Stones, vale destacar o trabalho do cartunista Robert Crumb. Ele fez lindas capas para discos ótimos, como o “Cheap Thrills“, de Janis Joplin – todas com seu característico traço de cartum.
Dizem que não se deve julgar um livro pela capa. Mas eu compraria estes discos, nem que fosse para decorar meu quarto.