Os últimos momentos de El Comandante
Há duas visões distintas quando se fala de Cuba. A da ditadura opressora das liberdades individuais ou a do governo revolucionário e promotor de justiça social. Da mesma maneira, há duas formas de ver o povo cubano. A do socialista que vive as dificuldades de sua terra ou o que fugiu ou quer fugir para Miami em botes precários. No centro desses dois olhares sobre a ilha encontra-se a figura carismática de Fidel Castro.
Sem aparecer em público desde que foi internado para realizar uma cirurgia no intestino [apenas em fotos divulgadas no último domingo], há cerca de 15 dias, as pessoas começaram a especular sobre o real estado de saúde de El Comandante. Com 80 anos de vida completos no último dia 13 e depois de 47 anos de Revolução, o destino de Fidel parece determinante para o destino de Cuba. Na linha de sucessão imediata está seu irmão Raúl Castro, que no momento já realiza interinamente as funções de presidente do país.
A tarefa de transição é aparentemente complicada por causa da campanha contra o regime cubano que os EUA já começaram a empreender por meio de discursos da secretária de Estado Condoleeza Rice a favor da “democracia”. Ainda assim, Fábio Guedes, professor de Economia Política Internacional das Faculdades Jorge Amado, pensa que não haverá intervenção direta do governo americano na ilha. “A propaganda contra o regime tende a aumentar. Especialmente por conta dos cubanos que vivem nos EUA. Mas o interesse do país é no Oriente Médio.”
A luta dos EUA contra Cuba é antiga e se acirrou com o bloqueio econômico e comercial à ilha a partir de 1962, três anos após a Revolução. Mas o que pretendia ser uma forma de minar o regime ironicamente se tornou um fator para o seu fortalecimento.
A partir daquele momento, não manteriam qualquer tipo de relação comercial com a nação cubana nem com nenhuma de suas organizações. Empresas norte-americanas espalhadas pelo mundo também são proibidas de manter comércio com Cuba. Nenhum país pode exportar produtos dos EUA ou fabricados com matéria-prima norte-americana para a ilha. Como os EUA são a principal economia do mundo, restam poucas alternativas aos cubanos.
”A ajuda da União Soviética nos primeiros anos da Revolução e os investimentos em saúde e educação não permitiram que Cuba morresse de inanição“, diz Fábio Guedes.
Sobrevivência – Para o professor, a sobrevivência do regime não está subordinada à presença de Fidel Castro. “Assim como o McDonald‘s é um símbolo do capitalismo, Fidel é o símbolo de um processo histórico que instaurou a Revolução em Cuba“, explica.
A continuidade do socialismo na ilha, de acordo com Guedes, depende da escolha de quem vive lá. “O número de pessoas que sai de Cuba é menor do que o de pessoas que saem do México. Elas võ embora, não à procura de emprego, educação e saúde, mas porque não concordam com o sistema. Os valores socialistas estão enraizados na juventude. Até que ponto eles vão querer trocar esses valores pelo individualismo da sociedade de consumo?“