Tchutchuca Indie
pedro fernandes
Quando a Cansei de Ser Sexy surgiu com seu eletro-rock depretensioso, letras irreverentes como a de "Meeting Paris Hilton" e apelo pop inegável, o mundo indie se abalou em suas estruturas, franjas e olhares blasé. A idéia era esculhambá-lo, fagocitando-o e expelindo o que há nele de mais sem sentido.
É claro que a pose ajudou, mas não era para levar a sério. E foi isso que novas bandas como Bonde do Rolê e Bonde das Impostora fizeram, mas numa potência bem mais elevada, juntando o funk carioca às referências da CCS .
A esse novo fenômeno, ao qual se juntam pelo menos mais dez bondes, alguns críticos deram o rótulo de indie-funk, eletro-funk ou mesmo pós-funk. Embora as referências dentro das músicas sejam as mais diferentes possíveis, não há uma elaboração que as una num só corpo. É tudo muito tosco mesmo e o escracho pareceria o único objetivo se eles não tivessem sido eleitos o hype da última semana.
Estrelas - A paranense Bonde do Rolê, que teve seu EP homônimo produzido pelo Diplo, DJ americano que também produziu M.I.A. e fez remixes para Gwen Stefani, acabou de passar por uma turnê na Europa e segue em julho para uma série de shows nos Estados Unidos. Além disso foram citados no New York Times e em revistas importantes no mundo da música como a americana Rolling Stone e a inglesa New Musical Express.
Enquanto isso o Bonde das Impostora, também do Paraná, corre por fora, sem turnês nem produtor internacionais, mas com a mesma verve iconoclasta esculachada.
Nenhuma das duas têm discos disponíveis.
O EP do Bonde do Rolê teve um número de cópias limitado e não está mais a venda e o Bonde das Impostora ainda não registrou suas músicas em CD, mas os dois têm faixas disponíveis no Tramavirtual [www.tramavirtual.com.br] e no MySpace [www.myspace.com].
Pós-funk
Cult - Quando exatamente o funk virou cult? Seguindo um roteiro dá para dizer que primeiro ele desceu o morro, ganhou espaço em casas noturnas caras do Rio de Janeiro para balançar o popozão de gente branca e rica. Mas ainda era visto com desconfiança por intelectuais [ou pseudo] ou como manifestação quase folclórica, entretenimento de bugres sem nada melhor para fazer.
Tati Quebra-Barraco, Deize Tigrona e companhia levaram o som para o resto do Brasil, ficaram conhececidas como pós-feministas e ganharam espaço em rodinhas de gente descolada. Mas aí surgiu o americano DJ Diplo na história e as coisas mudaram de rumo.
Quando ele e M.I.A, a moça "pós-trend-tudo", adotaram batidas do funk carioca no CD "Arular", os mais esnobes e amantes do hype tiveram que distorcer os narizes e começar a prestar atenção à sonoridade funkeira. O resto é história.
[Comentário]
Não dá muito para separar o Bonde do Rolê do Bonde das Impostora. As referências dos dois são praticamente as mesmas e os dois acabam se citando, seja na cena virtual em que se firmaram [no MySpace e no Trama Virtual] ou nas músicas que fazem.
As referências do Bonde do Rolê são mais rock, com samplers de “I Believe In A Thing Called Love“ em “Dança da Ventuinha“ e exploração do nonsense mais puro em “Melô do Vitiligo“.
Mas dá para dizer só pelos títulos das músicas que no quesito esculhambação o Bonde das Impostora está uma nota acima do Rolê.
“Fotologger Diva“, com sampler de “Toxic“, da Britney Spears, é uma homenagem aos egolatras da web. “Bicha Designer“ tem um toquezinho midi irritante e descreve o estereótipo de gente que se acha muito moderna. “King dos Blasé“ tem sampler de “Take Me Out“ e diz: “Oê, oê eu sou mais indie que você“. Qualquer semelhança com a vida real não terá sido mera coincidência.
Ouça
Bicha Designer - Bonde das Impostora
Funk do Batão - Bonde das Impostora
King dos Blase - Bonde das Impostora
Rolê de Cú é Rola - Bonde das Impostora
Fotollogerdiva - Bonde das Impostora
Solta o Frango - Bonde do Rolê
Mercenária - Bonde da Pantera